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MIEC MATACHANA

Departamento de estudios MIEC

Contar com pessoal qualificado nas unidades de reprocessamento é essencial para prevenir infeções hospitalares. A formação garante, indiretamente, a segurança dos pacientes durante e após a cirurgia. A implementação de um sistema integral de gestão da qualidade e conformidade regulamentar são necessários para prevenir falhas em cada uma das etapas de reprocessamento e, desta forma, manter a integridade dos dispositivos médicos.

RESPONSABILIDADES DO PESSOAL NAS RUMED1

Os departamentos de processamento estéril são a coluna vertebral dos hospitais e centros cirúrgicos. Sem um staff devidamente formado e orientado para o pormenor e a minuciosidade, as probabilidades de as taxas de infeção do hospital aumentarem são acrescidas. E, como bem sabemos, as infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) são extremamente perigosas para a saúde pública.

Por essa razão, a formação adequada do pessoal das RUMED é crucial e contribui diretamente para a segurança dos pacientes durante e após a cirurgia, sendo, portanto, fundamental que esse grupo de profissionais desempenhe as suas responsabilidades corretamente.

O pessoal desses serviços é o encarregado de muitas ações que, indiretamente, repercutem nos cuidados ao paciente. A seguir, citamos alguns exemplos das tarefas habituais desta equipa humana:

  • Recolha dos sets e instrumentos contaminados procedentes de todos os pontos de serviço do hospital.
  • Classificação dos sets e instrumentos individuais contaminados, para a seleção do processo manual/automático que tiver sido validado pelo hospital.
  • Descontaminação de todos estes instrumentos e dispositivos médicos.
  • Inspeção e preparação dos tabuleiros, caixas, contentores e sacos de material previamente à respetiva esterilização nos vários equipamentos.
  • Embalagem e empacotamento dos instrumentos para a sua esterilização com base nas tecnologias disponíveis no centro médico, e em conformidade com as instruções de reprocessamento dos fabricantes de dispositivos médicos.
  • Controlo e manipulação dos equipamentos de esterilização.
  • Entrega do conjunto de instrumentos esterilizados aos blocos operatórios e outras zonas de assistência ao paciente.
  • Manter registos pormenorizados de todos os procedimentos efetuados na Unidade de Reprocessamento.
  • Controlar e solicitar os consumíveis necessários para manter e garantir a funcionalidade do serviço, tendo atenção às datas de validade e à integridade das embalagens e recipientes de cada item esterilizado.
  • Controlo do inventário de instrumentos, um dos capitais mais importantes dos centros de saúde e, muitas vezes, pouco vigiado.
  • Realizar uma rastreabilidade completa e documentada de todos os materiais processados, para obter uma informação em tempo real do estado assético e localização de cada material processado.

O pessoal de reprocessamento deve garantir que os procedimentos desenvolvidos neste serviço sejam conformes os guias e recomendações locais e internacionais, para que os seus pacientes possam estar confiantes durante o procedimento cirúrgico. O pessoal deverá ter em conta todas as medidas necessárias para eliminar os micro-organismos e substâncias potencialmente nocivas sobre o instrumental médico, o que faz com que as RUMED sejam um serviço estratégico em qualquer centro médico.

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FATORES QUE AUMENTAM A INCIDÊNCIA DE EVENTOS ADVERSOS

Frequentemente, o próprio pessoal de saúde considera equivocadamente que a esterilização por si só é suficiente para garantir que os instrumentos estejam prontos para serem reutilizados. Como sabemos, o reprocessamento dos dispositivos é uma prática de várias etapas onde se inclui uma limpeza adequada, seguida de desinfeção e/ou esterilização. Uma falha, em qualquer dessas ações, ameaça a integridade do processo, o que ira supor um risco de contaminação do instrumental e, por conseguinte, dos nossos pacientes.

Tanto o novo Regulamento Europeu relativo aos Dispositivos Médicos (MDR 2017/745) como a FDA exigem aos fabricantes de produtos de saúde o fornecimento de instruções de utilização pormenorizadas (IFUS, pelas suas siglas em inglês) para o reprocessamento correto através de processos validados. Estes documentos proporcionam um guia para os profissionais da saúde sobre como limpar, desinfetar, esterilizar e manter a funcionalidade do instrumental de maneira segura antes de uma reutilização em qualquer procedimento médico.

Além dos desafios intrínsecos associados a todos estes processos, existem outros fatores que podem aumentar a incidência de determinados eventos adversos:

  • A pressão exercida sobre estes serviços para entregarem rapidamente os instrumentos nos procedimentos programados, em muitos casos, com carência ou stock insuficiente, o que poderia obrigar o pessoal a adotar atalhos/práticas arriscadas.
  • IFUS longas, complexas e confusas por parte dos fabricantes, o que pode dificultar o reprocessamento do instrumental mais complexo.
  • Atrasos na chegada dos instrumentos “emprestados” por fornecedores externos, e que devem ser reprocessados antes do seu envio para o bloco operatório.
  • Pedidos de reprocessamento fora dos horários de trabalho normais da RUMED.
  • Formação inadequada do pessoal que não trabalha habitualmente nestes serviços, e que deve atender aos pedidos de materiais fora do horário de trabalho: noite, urgências, fins de semana, etc.
  • Comunicação deficiente entre o pessoal de cirurgia e o da Unidade de Reprocessamento, para alinhar as necessidades de cada serviço.
  • Falta de implementação de procedimentos estandardizados e rastreáveis em determinadas fases do ciclo de reprocessamento, o que pode traduzir-se numa carência na repetibilidade dos procedimentos e na respetiva documentação.
  • E nalguns casos, um ambiente de trabalho pouco arrumado e ineficiente, propenso às distrações.

Também não devemos esquecer que chegam constantemente aos nossos hospitais novos dispositivos médicos ligados a práticas cirúrgicas inovadoras, o que implica uma atualização e uma adaptação tecnológicas progressiva do serviço e, de igual forma, do seu pessoal.

CONCLUSÕES

Em geral, as falhas no reprocessamento comprometem a segurança dos pacientes, ao porem em risco a eficácia e a integridade dos dispositivos médicos com todas as consequências que isso acarreta.

Uma RUMED coordenada e organizada passa pelo pessoal adequadamente formado, preparado e plenamente conhecedor e responsável das suas tarefas. Sem conhecimento, ferramentas adequadas, informação nem recursos, os erros podem ser frequentes.

1 RUMED: Reprocessing Unit for Medical Devices. Unidade de Reprocessamento de Dispositivos Médicos. É o termo estabelecido desde 2011 pela WFHSS e pela Zentral Sterilization para se referir às unidades centralizadas existentes nos hospitais, que se encarregam de todo o ciclo de reprocessamento dos produtos de saúde.

 


BIBLIOGRAFIA UTILIZADA